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sexta-feira, 27 de abril de 2007

Depois do sanduíche

A situação de Eustáquio era bastante complicada, pra não dizer confusa e um tanto agonizante, de acordo com as convenções sociais ele podia apenas olhar, e que fosse por pouco tempo, nada que excedesse a três, quatro segundos. Era uma indisciplina ficar olhando aquela loira de corpo bem feito, aparecia somente a noite em ocasiões bem rápidas. A noite estava quieta e o bar vazio, o sanduíche chegou com uns dez minutos de atraso, não bastasse a fome de Eustáquio, o gato pardo, freqüentador acíduo do bar, se prostou com índole pidã justamente em baixo da mesa dele. Puta merda! Eu sou um imã mesmo, quando não é gato é bêbado, o caralho a quatro...

A loira de calça jeans justa e mini-blusa azul comia elegantemente, como havia sido treinada, pela sociedade. O que chamava a atenção de Eustáquio era a maneira dela morder o sanduíche e passar o dedo médio nos cantos da boca carnuda e distante. Ele pensava em avançar mas sabia do abismo e dos riscos.

Eustáquio, mecânico de uma minúscula oficina no fundo da sua casa não conseguia se livrar da graxa entranhada em suas unhas, isso o incomodava, o que lhe fazia comer o seu sanduíche de costas pra a moça, aparentemente bem criada e sadia. Uma pergunta tumultuava Eustáquio: - Porque ela veio logo aqui?

A resposta veio mais rápida do que a pergunta, quando a moça pegou o celular e ligou pra sua mãe dizendo que estava num buteco próximo a faculdade onde a mãe fazia um curso noturno. Passado quinze minutos a mãe da moça chegou, toda animada com o curso, com as disciplinas, com o colegas, Eustáquio queria matar a fome e tentar esquecer que lhe roubaram a marmita. Toda vez que Eustáquio ia fazer um serviço na rua ele levava a marmita que sua mãe preparava canônicamente, nesse dia ele tinha ficado sem ela, nem viu quem foi.

Já era quase onze da noite e estava sem comer desde o almoço, aquilo causava um rombo em Eustáquio. O blá blá blá da mãe e da filha começaram a irritar Eustáquio, ele queria comer em paz, olhar mais um pouco a loira em silêncio e ir ao banheiro. Eustáquio começou a ficar indeciso entre o tesão e a raiva.

As duas fizeram seu lanche e saíram primeiro. Eustáquio engoliu o seu, pagou, fez o sinal da cruz e saiu em seguida. Entre Eustáquio e a porta do bar uma lembrança lhe socou o estômago quase botando o sanduíche pra fora. Ele se lembrou que no outro dia tinha que ir a júri enfrentar a ex-mulher que lhe cobrava uma pensão de 1.200 reais, quando que Eustáquio não conseguia tirar 500 por mês. Lembrou também do advogado que comia sua mulher antes e depois dela sair de casa, lembrou também do dia que apanhou na cara do advogado que lhe chamou de brocha e disse que se ele não pagasse o que devia ia em cana. Lembrou também do dia que passou embaixo da janela da sua casa e da rua ouviu os uivos da ex-mulher e do advogado. E como não lembrar também do silêncio da sua mãe quando ele voltou pra casa. Só não conseguiu lembrar, na delegacia, como conseguiu estuprar mãe e filha ao mesmo tempo.

2 comentários:

Fernanda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fernanda disse...

Muito bom André, como sempre um personagem psicologicamente surpreendernte...rs...Bom mesmo! Parabéns!!!