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terça-feira, 10 de abril de 2007

História do quando

(André Lopes)

E quando o Medo fez-se o pranto do Perdão
o Descaso entopia as veias do coração
e na hora da não-hora orava-se por mais
Descaso e menos Medo desde que o Perdão
comparecesse com um prato de de(lírio) nas mãos
tornando o Medo ébrio e o Descaso enfraquecido...

Atrás da chave

Mesmo se tivesse a chave
dessa maldita porta que quero
arrombar mas não consigo...
rouba minhas madrugadas
e sinto sede de entrar...
como anjo decaído busco
um porto seguro nem que seja
no mar do sexo da piedade e do delírio...

A sombra das pedras em dor

minha elegância vem dos beijos
que as putas me deram acalmando
todo meu ódio encharcado do gosto
da rua testemunhando o gozo de tantas madrugadas
transformado em pedra e uns tristes olhos
pendendo duvidosos num quieto tiroteio.
Valha-me Deus!

porco tempo

nada me satisfaz mais
do que o brilho porco desse
cálice trincado que mesmo
sem querer verte a água
que estava em nós e já está
quase sempre...
por lá aonde os homens tem medo
de ir vou e pasmo e um brilho tímido
de estrela banza aqui bem dentro...
... cansado... ! fujo pro seu quarto
e me abrigo entre suas pernas quentes
num tesão quase baço!

De vez em quando

É certo que de vez em quando
eu morro
corro pra bem dentro,
suspiro, fogo!
Quem cuidará desse incêndio?
que tosta a minha pele
que está não estando na sua pele
e na sua boca, motivo de alucinação?
fico quieto no fim do dia e estilhaçado
na canção da madrugada...

genitália

na boca do meio-fio
vestida naquele trapo fatal
Maria contava seus dólar(es)
ganhado a pouco de um velho mijão
aquele mesmo que mandou embora
seu último cabaço (o da alma)
espatifado na cegueira do chão.

Qualquer nota

qualquer canto era pra prosa
era fiado e navalhal
a carne descarnada e suspirando
qualquer nota no fim do coração
papel rabiscado molhado de dor
e eu precisando de ter novamente
nas minhas roupas o borrão do seu
batom vermelho a minha última ceia
antes do choro e dos fogos incertos
do reveillon... quem sabe no carnaval
ou nos dias cinzentos da nossa última quarta-cinza
espero? corro? acho que vou chegar atrasado denovo!

Quebranto

Quero um palpite
quero um ungüento
um veneno feliz que pode
ser um beijo um sexo violento

vou de flores vinhos e tecidos
rasgados desde que suporte
e acolha meus pensamentos imundos

a nostalgia me faz melhor
enjaula minha alma encharca meus olhos
na mesa de um botequim sem você com cerveja e
querubim!

rasga meu peito agora
arranha minha pele
cante um samba pra mim
me faça submisso suba em cima de mim

coloca Lupicínio na vitrola!

Ardor

ardor: o ar que causa dor.
o peso das eras, um mistério
a solucionar.
enquanto isso (a vida) estamos
no meio de uma selva, excelente lugar
pra ficar com medo, surpreendidos em
nosso silêncio, nos arredores da nossa
consciência, que grita e nos coloca de
joelhos na frente do caos e dos lábios
não beijados...

Fel

um palhaço uma vez me disse
primeiro que era um clow
e depois que a amargura
era uma amarga rua
e queria silêncio
pra se maquiar e curtir
seu conhaque e o seu frio
porque já não lhe bastava
o relampago refletindo no espelho
e partindo em sei lá quantos pedaços
o seu coração pois cada relampago refletido
naquele espelho fotografava, dolorosamente,
ainda mais
o velho retrato amarelado
de uma colombina loira de olhos verdes
e tão azul, pra não dizer taful
e morrer pedante...

a arte de deslizar os sapatos

as vezes cai na cuca uma vontade besta
quando a mesa do bar é pouca
e os dias ficam sob a sola dos sapatos
que deslizam facilmente em qualquer noite
e nesas idas e vindas vai o malandro
riscando as ruas com seu bicolor bico-fino
como se estivesse no meio do salão
de uma gafieira esperando a que não virá
torcendo pra madrugada nunca ter fim.

apaga a luz

eu não tenho medo do amor,
me respondeu um mendigo
sujo e sem rima,
tinha sensibilidade
nas fezes que trazia nas mãos.

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