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quarta-feira, 9 de junho de 2010

Mais além

Mais além e eu esbarro naquele outro eu
Rolado ribanceira a baixo
Açoitado pelos dias
Cúmplice do fingimento
Preciso na caminhada e no delírio
Ébrio e miraculoso
Adorado por meretrizes
Rechaçado por donzelas
Expulso do paraíso
E da porta da fábrica
Este eu sabe do meu passado e acusa meu presente
Pra ele não há velocidade
E o tempo é um só
Ele desce a montanha
E tira dos olhos um pantanal.
Quem suporta o coração

O coração é um ginete que teima em escapar
A qualquer hora
Mesmo se não há razão
A sua cavalgada é incessante
Em espaço reduzido dentro do peito
Ora quer o ar ora quer o vale
É aí que a razão fenece
E não suporta seu disparate

segunda-feira, 31 de maio de 2010

NOVAMENTE

... qual erro praticamos que nossa chama não apaga?
Feito lençol estirado em arame alheio
Aguardando o uso e cuidados intensos
Assim é o cenário de nossa dança
Encaixe de almas no lugar de pernas
Discrição e escândalo
Sua boca é meu crime e meu castigo
Nosso orgasmo nos dá idéia de paraíso
Mais um Cristo ressuscitado
Nossos encontros é o que nos liberta
Nossa separação o meu martírio
Sua ausência é meu lenho final
Prefiro-te nua como feita de mim e eu de ti
Vênus resplandecente
Que transita meus sonhos despreocupadamente
Me sinalizando a nossa salvação.

(André Lopes)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

BOM SERÁ

Bom será se realmente tudo isso
- a vida –
For mentira e o sonho uma verdade
Se for tudo o contrário disso
Pra mim chega
Continuar basta
Quem nasce pra viver não vive
Tudo é prisão
Bola de aço atada aos pés
A cova do fim pouco profunda não tem fim
E o segredo de tudo isso me assombra
Assim Deus vai assombrando mais do que qualquer outra coisa
De tão precisa a navegação se perde
E o tempo vai deixando de existir
Não quero ser outra coisa além de ninguém
Talvez o oceano no seu sem fim
Me basta.

(André Lopes – 2010)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Pedido

Quero a delícia do teu beijo
Em horas insanas e desprogramadas
Quero a calma do seu colo
Convertida em desvario
Quente devasso e letal
Sentir novamente teu cheiro lento
E luzente em harmonia com o céu aberto
Ao final desejo pausado ardente
Fogo de pimenteira.
(André Lopes)
DOR MAIOR
Nos braços da meretriz
Tudo é falso irreal
Mas há conforto
Adianta ser estorquido
Por uma noite farta
Melhor do que uma paixão
Fugaz, vazia e dolorida
Em que a inexistência do sim e do não
Se faz presente
Quem trilha esse caminho
Sempre sai sozinho
E dor maior é delirar por moça de família

(Andre´Lopes)

terça-feira, 30 de março de 2010

Cantiga de cantar

Anda a vida te esquivando dos meus anseios
É aí que imploro a Amor para manter
Bem vivo os meus desejos!
Afagar-te em horas sensatas
Tudo isso misturado a uma singela contemplação
E meu desejo de te fazer mulher
Repousa em meu peito ardente
Que não vê a hora de conjugar
Nossas carnes mais sedentas
Na busca do abrigo mais necessário
Das lágrimas e dos suspiros que certamente verteremos
Será a causa muito justa
O peso dos nossos sentimentos
Mia Senhora, volve os olhos para este plebeu
Antes que ele se perca de guitarra na mão
Pelas sombras do mundo afora
Batendo novamente em porta vazias
Em busca da sua Senhora!

segunda-feira, 29 de março de 2010

Ofício

Hoje acordei como um jardineiro
Disposto a distribuir flores
Na verdade
Acordei mais andarilho do que jardineiro
Meus dois ofícios
Minha vida até agora foi isso
Caminhar e distribuir flores
Carrego nas mãos
Flores sadias
Que em algumas mãos se adoecem
E morrem repentinamente
O porquê disso pouco me importa
Ando a distribuí-las
Esses dois eus dentro de mim
Agitam minha essência
Um é desatino o outro é meta
Por trás de tudo isso
Um canto triste
Uma melodia em tom menor
Uma janela um oceano e um luar.
A cúmplice

O que mais o Gilberto gostava de fazer era chegar em casa depois do trabalho e me encher de porrada, não era de todo ruim, doía sim, muito, de verdade, mas depois ele me beijava, colocava no colo, me chamava de cabritinha, de coisinha do pai, etc.
Já pensei em deixar o Gilberto e os dois pequenos, mas quem nesse mundo teria coragem de me espancar e encher de tanto tesão?
QUASE TODA MULHER CASADA TEM SEU CAFAGESTE ESCONDIDO NO ARMÁRIO, AS QUE NÃO TEM JÁ PASSOU PELA IDEIA EM TER, EXCETUANDO MINHA MÃE E MINHAS IRMÃS!

domingo, 28 de março de 2010

Um caso de lealdade

Mulher boa é a dos outros!
Essa era a filosofia de Vieira, solteirão de 52 anos, sozinho no mundo e desempregado. Quando era mais jovem, até seus 30 anos, sua máxima se aplicava bem, pois versado na arte de explorar mulheres mais velhas sentia o drama de ser desprezado pelas mais jovens, não queria saber de mulher com mais de 30 anos.
O papo com as cocotes ia bem até a hora dele soltar o que fazia, tinha dificuldade de inventar uma desculpa e sempre largava que no momento estava sem ocupação. Vieira viva de bico, vendia uma coisa aqui oura ali, menos tóxico.
Numa tarde qualquer ele reencontrou um antigo rolo seu, Sofia, na casa dos sessenta e poucos. Desembargadora aposentada pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás. Na época Vieira com seus vinte e poucos anos ouviu falar das coroas vadias que trabalhavam lá e que viviam dando pros estagiários e em alguns casos até mesmo debaixo das barbas dos maridos. Animado com o risco ele cavou essa mina por meio de um amigo seu estagiário de lá.
Sofia naqueles tempos tinha escorraçado o marido de casa e colocado Vieira no lugar dele, ficaram juntos quase um ano. Em solidariedade os filhos foram embora com os pais, dois rapazes um de quinze e ou outro de doze. O mais velho não deixava a mãe em paz e constantemente ameaçava os pombinhos. O que forçou a saída de Vieira de cena e a entrada da solidão pra dividir o leito com Sofia. Na saída Vieira levou algumas jóias e uma boa quantia de dinheiro e fugiu do Estado.
No reencontro Vieira sem cor gaguejou o nome do ex-amor.
- So so fi a... Perd...
A sua última palavra foi enterrada com três tiros na barriga. Apressada Sofia atravessou a rua e entrou num carro guiado pelo seu filho mais velho.
Agora não

Esporadicamente há um mês Alaor ouvia de sua esposa na cama:
- Agora não!
Ele consentia, virava por canto e tentava dormir.
Certo dia Alaor encontrou Amarildo, canalha requintado, conselheiro de destruição de lares.
- bixo to num enrosco!
- diga lá meu velho.
- a Lurdes veio com papo de “agora não’ na hora do vamo vê.
- e o que você faz? Dá no coro ou dorme?
- deixou quieto e vou dormir.
- tá tudo errado. Quando elas dizem não elas querem sim. É a hora de você pular em cima e dá uma trepada bem gostosa com ela, arromba o cuzinho dela e tal. Compreende?
- to ligado.
Alaor foi pra casa com a pulga atrás da orelha.
Chegando em casa Alaor surpreende Lurdes ao telefone toda prosa já se despedindo nesses termos: “Tchau Dodô!” Era assim que a rapaziada chamava o experimentado Amarildo.
Sem cor Alaor chega perto de Lurdes:
- oi benzim!
-oi! Já tão cedo em casa?
-eu quero você agora.
-ah agora não! To ocupada.
- mas eu quero agora.
Em menos de cinco minutos Alaor dominava seu benzinho com violência e força descomunal. Aos berros ela pedia misericórdia e gritava socorro em vão.
No dia seguinte a polícia encontrou o corpo de Lurdes com as mãos amarradas, uma faca enterrada no peito e uma colher de pau fincada pela metade em seu ânus.
Presente de aniversário

Semana passada Natalinha passou pelos seus 20 aninhos, levava consigo uma tristeza e um segredo.
Da tristeza só a mãe sabia, o segredo era só dela.
A descoberta da tristeza de Natalinha deu-se de forma simples. Tudo começou pelo seu comportamento. De risonha calou-se, botão de flor que nasce morto. A mãe prontificou-se:
- to te notando meio calada!
- nada não mãezinha.
- foi alguma coisa com o Júlio?
A menina deu dois soluços e correu pro quarto. Trancada lá dentro se livrou da tristeza e do segredo.

terça-feira, 16 de março de 2010

Aos amadores com carinho

Primeiramente devo dizer que a concepção daqueles que acreditam nessa premissa: “a paixão acaba depois vem o amor” vão por aí se equivocando, o amor não é e nem deve ser água morna, represada, estanque. O amor tem seu quê de água quente e deve ser confortável, aprazível, convidativo, bem como a paixão tem o seu quê de água gelada causadora de arrepios, frêmitos e indecisão de ébrio. O amor também não combina com rigor, este dentro daquele torna a luz baça, mote da “sem gracesa”, consolo de viuvez impotente, afrodisíaco de aspirante a beataria.
Não pretendo conceituar o amor, mas dizer como ele deve se desenvolver em corações dispostos a abrigá-lo. Se não sou capaz de conciliar as duas coisas (amor e paixão) prefiro flanar pelo mundo em total mendicância apostólica deixando uma centelha disso tudo por aí afora. Prefiro a mendicância ao desprezo e a incompreensão que tanto flagela os sentimentos. Vá lá que eu seja chamado de louco, mais nobre levar esse diadema do que o de ponderado no amor e infeliz na vida. Não nasci para casamento, não sou dado a negócios escusos e mentiras rasas, o mal do nosso século.
Minha falta de tato com as coisas práticas dessa vida me levou a pensar assim, no entanto podem afirmar que padeço do mesmo mal que nosso ilustre Brás Cubas, a ideia fixa. Ainda não sei se essa será a razão do meu declínio nessa matéria, por hora ainda mantenho-a e faço esforço para torná-la realidade. Tracei uma meta, um projeto que esbarre no infinito. Ademais, só consigo ver o amor imerso em chamas, coisa contrária não.
Heloísa

Suave como a brisa do mar
Foi nossa contemplação
No mar existem mistérios
Que nem sempre vêm à tona
Só quando ele quer
E quando ele quer o mundo delira
Primeiro ele me trouxe seus olhos
Esmeraldas raras faróis em noite escura
Norteando a navegação
Eu como humilde navegante os precisei
Mas fui em outra direção
Quase naufraguei
E graças aos de repentes do destino
Resolvi me guiar por eles novamente
Tenho fé de chegar em terra firme
Pisar em ilhas maravilhosas
Onde pretendo viver!

quinta-feira, 11 de março de 2010

As estrelas do entroncamento

Me pediram um silêncio
Que eu não sei se vou cumprir
Eram os olhos de morena
Nativa pirenéia
Que abaixo das estrelas fumegavam
Aqui na Terra.
Entre o cine e o teatro antigo
Da antiga matutina
Pairavam outros brilhos
De recente luzir e encanto oculto
De uma ouvi meias palavras e um até mais
De outra nem melodia de vogal
O silêncio de uma valsou na minha memória
Como brilho de estrela morta
Incentivando dolências de samba-canção
Voltarei
Feito caçador de estrelas
Violão em riste
E uma vontade meio tola
De ir atrás delas.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Hoje tudo está cinza

Hoje tudo está cinza
Porque Deus quis
Coincidência
Se eu quisesse tudo estaria cinza também
Eclipsado.
Uma luz baça entra pela janela do meu quarto
E me afaga fazendo-me prestar atenção na chuva lenta e fina
Hoje respirar arde o coração
Cheio de pó, silêncio, desejos.
Ela distante me nega
Aparece as vezes em sonho mais feliz do que eu
Sua alegria me sufoca me tonteia
E alimenta meu desejo de errar, vagar a toa
Bem desinteressado da vida, dos amigos, das dicas e dos conselhos banais.
Talvez um cigarro, um conhaque, um samba dolente antigo de doer
Me faça reagir, respirar sem dor.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Prece a Ela

As vezes uma manhã se constrói com tédio
Uma noite nem sempre
Nela existe encanto, magia velada
Que só quem ama conhece
Um ritmo quente lasso
Quase escultural
Feito um delírio de Camille Claudel
Oceânico...
Que só quem mergulha vê!
Como é suave estar no deserto
E chorar preces marginais
Um verso todo estilhaçado... gauche...
Capaz de desafinar almas... corações...
Sangra, fenece.
(André Lopes/2010)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

HAIKU 1
Sabes o que é o amor
Repare o silêncio do vôo das borboletas.
CANTO
Canto como quem implora perdão de joelhos
Ao pé de uma santa cruz
Que brilha pra todos menos pra mim
Dentro do peito a prece existe
Só teima em sair
Quero fazer pedidos
O silencio abrasa-os
O amor tem várias faces
Me perdi nesse jogo
Não nasci pra esse jogo
A sua rima pouco me interessa
Construí a felicidade alheia
A minha se esvaiu
Sem felicidade e sem amor
Restou-me o canto
Triste em horas sutis
Morno durante o dia
Grave como a minha morte.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Quase além

Além de mim existe um nevoeiro
Que não me arrisco, meu medo é maior
Dentro do meu medo outro nevoeiro
Ainda maior.
Fora disso o desejo
A vontade de romper silêncios
A brevidade do tempo me torna algoz
Terei perdão?
Sinto muito meus irmãos
Minha vontade de viver
Repousa em ilhas distantes.
SENSAÇÃO

As vezes sinto-me súdito
Simples vassalo do seu olhar
E quando o mundo finge em querer parar
Procuro retomar a respiração
E fazer de conta sentir o sangue das minhas veias
Embaralhar-se ao seu
Tudo isso por causa do silencio que vez ou outra habita nós dois
E na esperança de sentir a febre de um beijo
Temo me arriscar em misteriosa embarcação
Mesmo prevendo as aventuras desse mar, suas bonanças e temporais
Desconheço seus segredos e desejos
O que me motiva querer seguir
Pois guiado pelas estrelas que não brilham para me enganar
Carrego no peito a esperança de uma terra firme
Muito além da Taprobana como cantou o bardo de um olho só
Que na manqueza do seu olhar enxergou a verdade ambígua do amor.
E eu, rudimentar mortal, que tem dificuldade de enxergar além
Canto a ti esse canto desalinhado repleto de vai e vem
Para te dizer se algum dia quiseres
Serei teu cantor, amante e poeta.

(André Lopes)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

canção

Quando se está inerte
Rascunha-se planos
Alguns realizáveis mas todos dependentes
De alguma força de vontade
Que nem sempre vem
Por conta de mil fatores
Uns compreensíveis outros não
Algo maior nos espia
E não sabemos como será o fim
O que existirá no fim
Quem resistirá ao fim
Algo me arrasta por aí e
Nem se quer me questiona pra onde quero ir
Tudo se turva
E é aí que ando pisando em espelhos...

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Prece ao vento

às vezes o êxtase me confunde
E sinto prazer em coisas subjetivas
Sinto enorme vontade de alinhar o tempo
Na palma da minha mão
Tudo foge pra um vazio sem rumo
É aí que percebo as raízes do tempo ferindo a terra
Esperando o pisotear de um cavalo doido chamado sonho, desvario.