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segunda-feira, 23 de maio de 2011

MINHA AULA DESPREOCUPADA DE PORTUGUES

Meus primeiros professores de língua materna (o português falado no Brasil) foram meus pais. Dentro de suas limitações com as normas gramaticais me ensinaram não apenas uma língua, mas maneiras de se posicionar no mundo, aspecto que a escola sempre deixa a desejar. Na escola aprendi escrever minha língua falada, a casar sílabas, acentuar, reconhecer sujeito e predicado, formar frases, para construir textos etc. A maneira gramatiqueira tradicional que aprendi tudo isso foi me transformando em um redator da média pra baixo, meu pensamento sempre disparou mais velozmente do que a norma “culta”, na 3ª série já fazia fluxo de consciência, um jeito de escapar as intermináveis listas de verbos pra professora dar visto na próxima aula.
Gostava de ler, a escola proporcionava isso, em casa havia livros, a tão afamada Enciclopédia Mirador Internacional, um deleite. Nunca entendi muito bem o que minhas professoras esperavam de minhas redações, pois na minha mente eu sabia uma língua e sabia também usá-la, acredito que não sabia era enquadrá-la nas arestas do papel. Eu era inquadrável, ouvia Ramones e Sex Pistols, usava coturno e acreditava no amor. Redação escolar pra mim era tudo menos isso, admirava a simplicidade, lia com gozo Jorge Amado, Graciliano Ramos, Rubem Braga, Drummond, Fernando Sabino que me ensinaram que redação escolar é só pra ter nota e se você não conseguisse, sendo simples, dava-se um jeito.
O “jeito” a licença poética do brasileiro, o que nos torna mais alegres e nos faz duvidar do autoritarismo. Com muito “jeito” fiz minha graduação e meu mestrado em Letras, lá aprendi algumas coisas sobre nossa língua inclusive a escolher se me tornava um professor de gramática cheirando a múmia ou um cientista da língua. Optei em ser um cientista da língua, das literaturas. Nunca entendi porque um professor de língua portuguesa precisa ser tacão, carrancudo, alguns colegas de profissão estão mais para delegados Fleury do que educadores. É o que tem me espantado mais, ouvir por aí um “nóis vai” perante isso é um alívio. Qual o peso de um “nóis vai” perante a opressão e o preconceito embutido em centenas de discursos de alguns colegas de profissão? Não pretendo me escorar nas muletas do certo e do errado, gosto de enxergar o teor de humanidade dos sujeitos e colaborar para sua preservação.
A receita pra escrever bem é ouvir bem, saber conviver com as diferente variações da língua, tentar fruir sua liquidez, ler, ler e ler. A língua requer de nós falantes, postura humilde, o poeta já disse que lutar com ela é luta vã. A receita prescrita acima pode ser usada ou não, depende da intenção, pra aqueles que estão atrás de fama, muito dinheiro, auditórios abarrotados, pirotecnia minha receita não serve, agora para aqueles que desejam “outro” banquete sintam-se a vontade.
(André Lopes)

terça-feira, 3 de maio de 2011

FUGA

O meu beijo é bandido
E arquivado em memórias peregrinas
Larápio indômito ... tardio...
Vai com coragem onde não pode
Se farta e goza!
Mas às vezes de tão bandido fica tímido
Se esconde, desvia, leva bronca e prosta...
E na sua ocultez é que sente calafrio
A ânsia temida do foragido
Quando deseja abrigo em bocas impraticáveis.

(André Lopes)