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sexta-feira, 27 de abril de 2007

Depois do sanduíche

A situação de Eustáquio era bastante complicada, pra não dizer confusa e um tanto agonizante, de acordo com as convenções sociais ele podia apenas olhar, e que fosse por pouco tempo, nada que excedesse a três, quatro segundos. Era uma indisciplina ficar olhando aquela loira de corpo bem feito, aparecia somente a noite em ocasiões bem rápidas. A noite estava quieta e o bar vazio, o sanduíche chegou com uns dez minutos de atraso, não bastasse a fome de Eustáquio, o gato pardo, freqüentador acíduo do bar, se prostou com índole pidã justamente em baixo da mesa dele. Puta merda! Eu sou um imã mesmo, quando não é gato é bêbado, o caralho a quatro...

A loira de calça jeans justa e mini-blusa azul comia elegantemente, como havia sido treinada, pela sociedade. O que chamava a atenção de Eustáquio era a maneira dela morder o sanduíche e passar o dedo médio nos cantos da boca carnuda e distante. Ele pensava em avançar mas sabia do abismo e dos riscos.

Eustáquio, mecânico de uma minúscula oficina no fundo da sua casa não conseguia se livrar da graxa entranhada em suas unhas, isso o incomodava, o que lhe fazia comer o seu sanduíche de costas pra a moça, aparentemente bem criada e sadia. Uma pergunta tumultuava Eustáquio: - Porque ela veio logo aqui?

A resposta veio mais rápida do que a pergunta, quando a moça pegou o celular e ligou pra sua mãe dizendo que estava num buteco próximo a faculdade onde a mãe fazia um curso noturno. Passado quinze minutos a mãe da moça chegou, toda animada com o curso, com as disciplinas, com o colegas, Eustáquio queria matar a fome e tentar esquecer que lhe roubaram a marmita. Toda vez que Eustáquio ia fazer um serviço na rua ele levava a marmita que sua mãe preparava canônicamente, nesse dia ele tinha ficado sem ela, nem viu quem foi.

Já era quase onze da noite e estava sem comer desde o almoço, aquilo causava um rombo em Eustáquio. O blá blá blá da mãe e da filha começaram a irritar Eustáquio, ele queria comer em paz, olhar mais um pouco a loira em silêncio e ir ao banheiro. Eustáquio começou a ficar indeciso entre o tesão e a raiva.

As duas fizeram seu lanche e saíram primeiro. Eustáquio engoliu o seu, pagou, fez o sinal da cruz e saiu em seguida. Entre Eustáquio e a porta do bar uma lembrança lhe socou o estômago quase botando o sanduíche pra fora. Ele se lembrou que no outro dia tinha que ir a júri enfrentar a ex-mulher que lhe cobrava uma pensão de 1.200 reais, quando que Eustáquio não conseguia tirar 500 por mês. Lembrou também do advogado que comia sua mulher antes e depois dela sair de casa, lembrou também do dia que apanhou na cara do advogado que lhe chamou de brocha e disse que se ele não pagasse o que devia ia em cana. Lembrou também do dia que passou embaixo da janela da sua casa e da rua ouviu os uivos da ex-mulher e do advogado. E como não lembrar também do silêncio da sua mãe quando ele voltou pra casa. Só não conseguiu lembrar, na delegacia, como conseguiu estuprar mãe e filha ao mesmo tempo.

Na madruga

(André Lopes)

Já devia ser quase três da madrugada, os carros e as pessoas iam se minguando na rua, o bar da esquina ainda estava cheio e mais adiante um velho conversava bem de perto com um jovem rapaz, segurando em uma de suas mãos, os rostos bem próximos um do outro, a noite era fria e dava para ver no meio da fumaça saída da boca do velho, que mais falava, gotas sórdidas de saliva que respingavam dolentes no rosto do jovenzinho.

Os dois estavam cambaleando, pareciam dançar uma valsa obscura, a boca murcha e saburrosa do velho abarcava a boca pequena e assombrada do jovenzinho, que abanava os braços como se estivesse afogando, passado uns dez minutos a viatura chegou, os dois foram pra um canto escuro da rua e o gemido dos dois se confundiam com os gritos da sirene. Irritado e embriagado o policial me perguntou o que fazia ali aquela hora. Quando ia dizer algo ele me lascou o bofete na cara dizendo que lugar de bicha é na cadeia ou no cemitério, eu tentei explicar que não era bicha que apenas tava saindo do bar e vi aqueles dois se agarrando e coisa e tal. Insuficiente, ele ameaçou me levar preso se eu insistisse em falar mais alguma coisa, me perguntou qual era o meu nome, Abelardo eu disse. Que porra de nome é esse? Eu... Cala a boca! Mas é que... Cala a boca eu já disse filho da puta! Mas... Quer morrer! Depois dessa não disse mais nada, era a minha palavra me levando pra guilhotina. Quando fiz menção de ir embora senti uma pancada na cabeça, depois não vi e nem senti mais nada.

Acordei hoje, três dias depois, cheio de hematomas, as mãos e os braços esfolados, o lábio superior inchado, a cabeça raspada com uma cicatriz de mais ou menos uns dez centímetros, nenhuma visita, quero ver minha mãe, é uma enfermaria fria, a cama, uma janela bem no alto da parede, uma mesinha, um lápis e um caderno. As vezes entra uma enfermeira e um policial, todos muito carrancudos, silenciosos e ágeis, não sentia as pernas e a enfermeira limpava minhas fezes.

Ninguém me dizia nada, silêncio absoluto, nem um tic-tac de relógio existe pra diminuir o peso do silêncio. Fecho os olhos e tento imaginar coisas boas, imagens confusas e aterrorizantes me tiram o sono, sinto frio e medo, como nunca imaginava que fosse sentir um dia.

A enfermeira que veio trazer o remédio me lembra Lígia, coisa estranha, to sentindo o perfume da Lígia, uma das poucas coisas que senti dela, queria sentir o corpo, todo nu, embriagado de desejo, suado de tesão, os peitinhos rijos, a boca pequena e macia, mas só o perfume dela ficou cravado aqui bem dentro, nada mais.

Eu quero fugir pela janela antes que Lígia venha me aplicar a injeção letal.

(2007)

Zelo

(André Lopes)

Me zele em suas delicias

Me vele nos seus sonhos

Pra acordar de mala pronta

Disposto a pegar o último trem

Que vai por aí escandalizando seu nome

No meio do mato e das nuvens

Até pressentir a doce chegada

E o preço vazio de voltar pra casa

E começar tudo dinovo

Sou da estirpe dos vagabundos

Que passeia docemente a língua

No seu corpo como a procura de vendavais

Sou da Lua a metade menos visível

A do brilho mais embriagado

Que acena preocupado aos corações

Mais zangados e menos primaveris.

Prefiro o trem e a mala pronta, o café

Esquentando, o chuveiro aberto, a água caindo

Aquecendo a suave esperança, de que ainda existo

E vou abrir a janela e dizer bom dia

Desapareço antes do galo cantar

Deixo meu cheiro, uma dose de conhaque

E uma canção.

Tenho os pés da alma bambos de tanto ficar em mim

Vais acordar e não me ver, vais pensar e não sentir

E com voz despreocupada e o coração já bem antártico

Vais enxugar as lágrimas na camisa que eu deixei.

À uma pixuna, ou a virgem mais virgem

(André Lopes)

Minha puta das carnes quentes

Minha fonte de renda furta-cor

Ânsia de todas as noites,

Exceto dos domingos frios

Que dedica aos seus queridos filhos

Assassina em potencial de corações meninos

Ainda mal dados à ereção

Escrava dos teus desejos

E dos seus ascos matinais

Rum com vodca quando acorda

Um maço de cigarro na hora do almoço

Café requentado no boteco do Seu Galego

E com os olhos socados pelo sono atrasado

Olha indecisa pra torre da Catedral

E pensa nos pintos de mais tarde, nos cús e nas bucetas.

Nas transas irrealizáveis, na saburra das bocas dos velhos

Bem comportados da repartição e da diretoria, no cancro

Da Assembléia Legislativa, no corrimento das senhoras posudas

Da Secretaria da Educação, das diretoras das Pseudo-Faculdades, das Pedagogas

Assexuadas e das Adventistas que sonham desesperadamente com

Um orgasmo múltiplo

Você minha pixuna que viu todos os orgasmos e não teve nenhum

Vá pro seu rum com vodca, seu café requentado, seu maço de cigarros e

E espere o Zepelim.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Na segunda noite

(André Lopes)

A mulher é o anjo expulso do paraíso! Bradava seu Maciel de copo em riste, no boteco do Seu Jadir, crioulo manso e risonho, que sempre dava uma gargalhada após o brado retumbante do Seu Maciel, essa dever ser a oitava ou nona dose de conhaque do Maciel, avisava o crioulo.

Eu gostava de ficar no balcão, jogando conversa fora com seu Jadir, aguardando seu Maciel, na sua velha e surrada calça de tergal marrom, camiseta branca e chapéu de palha. Diziam que ele tinha uma aposentadoria gorda do Banco do Brasil, tinha também, além da aposentadoria, 4 mulheres, 21 filhos, 32 netos e uma mulatinha de 19 anos que aparecia no boteco de vez em quando.

Toda vez que Seu Maciel dizia essa frase, desconsiderava todas as mulheres do mundo e pensava apenas em uma, Quênia, a mulatinha de 19 anos.

Cabelos pretos escorridos nas costas, olhos castanhos grandes e implacáveis, seios redondos e pequenos, dona de uma bundinha redondinha arrebitada, tinha um perfume entre doce e meio ácido que lembrava pitanga e um jeito próprio de rebolar e jogar o cabelo pro lado, tudo isso sempre acompanhado de uma passada rápida e suave de mão sobre eles provocando terremotos nos corações mais embriagados, deixava sempre alguns fios caírem sobre o rosto formando uma cortina transparente acastanhada escondendo parte dos olhos e evidenciando um sorriso fulminante.

Só eu sabia ver a infelicidade daqueles olhos ocultos e aquele sorriso, desenhado pelos lábios grossos e vermelhos de Quênia, a Leca da Avenida Paranaíba, a Paula da Avenida Goiás, a Karla da Avenida Anhanguera, a mulatinha do Seu Maciel, que ele fazia questão de levar, quando podia, debaixo do braço no bar do Seu Jadir.

Nesse dia Seu Maciel estava sem a mulatinha, e quando ele estava sem ela ficava com a garrafa de conhaque, praguejando Quênia e todas as mulheres do mundo, exceto sua mãe, as mães dos seus camaradas eram tratadas pelo velho de vadias pra baixo, menos a sua.

Certa noite Zacarias, ex estivador e ex detento, 23 mortes nas costas, cismou com o porre do Seu Maciel, mas que desgraça esse velho não cala a boca! Calma Zacarias, sorria largo Seu Jadir com os olhos apertados e a mão estendida. Ainda calo a boca desse puto, resmungava Zacarias que ainda não tinha visto Quênia.

Zacarias gostava de pedir ovo cozido e lingüiça frita, colocava tudo de uma vez dentro da boca e engrossava a papa asquerosa com pinga, comia rápido pra poder contar o dinheiro com mais calma, aquela vadia me paga! Zacarias tossia enfezado, levantava resmungando e ia embora sem pagar. No fim de cada mês ele acertava com Seu Jadir.

Na terceira noite Seu Maciel entrou em prantos no boteco do Seu Jadir, dizendo que a mulatinha foi embora sem se despedir, Seu Jadir pediu calma e deu seu melhor conhaque pro velho, que bebeu até mijar e cagar na roupa, só não caiu porque foi carregado pra dentro por Seu Jadir.

Na noite anterior, na mesma que Zacarias saiu do boteco cuspindo fogo, a imprensa e os curiosos se anteciparam à polícia pra contemplar mais um cadáver de uma jovem decaptada com as vísceras espalhadas pela calçada.

terça-feira, 10 de abril de 2007

No Ponto de ônibus

(André Lopes)

- Graças a Deus, no final do expediente vou pra casa ouvir Orlando Silva!

Era a idéia que mais alegrava o contínuo Altair. Sujeito magro, estatura mediana, pescoço enrugado, dedos amarelos. Seu mau hálito sempre o fez recusar os convites de seus colegas de repartição para o chope das sextas-feiras. Altair sorria com uma esticada insossa dos lábios e um leve franzir de testa, denunciando-lhe, as rugas dos trinta anos e o desalinho da sua boca solitária, de virgem Vicentino.

- Talvez fosse isso.

Com esse pensamento Altair perdia suas noites de sono e sempre chegava atrasado na repartição.

Suelen, respeitosamente tratada por Dona Suelen, era a única que Altair ousava mostrar seus dentes podres e virginais. Nem sempre ela olhava para o sorriso amigo do infrene colega, e em resposta ao desprezo de Suelen Altair baixava a cabeça e se dirigia ao seu departamento.

- Quinze anos nessa joça!

Bradava para si o contínuo sem jaça. Depois de longos sorrisos debutantes Dona Suelen o fuzila com uma pergunta espinhosa:

- Me diz uma coisa Altair, você ainda mora com sua mãe?

Altair se atrapalhou com os papéis, errou três cálculos e apertou o dedo mindinho na gaveta, roxeando-lhe a unha encravada. Dessa vez ele não mostrou os dentes bambos, mostrou os olhos azuis avermelhados e uma tosse seca, que ele tentava agarrar com a palma da mão direita, para não empestiar o ar da repartição.

A risadinha frívola de Dona Suelen fez Altair, no dia seguinte, comprar um punhal e gravar nele o nome de sua mãe.

Duas idéias transformavam as noites de Altair em tardes sufocantes de setembro: a boca que apodrecia sem nunca ter conhecido um beijo e ainda morar com a mãe.

Dona Marineide não queria ver o filho acabar como o pai e os tios, cacheiro-viajante e tuberculoso, ela vivia o ameaçando: - Se você não largar a bebida vou derramar óleo quente no seu ouvido!

Passado dois dias que a triste pergunta de misteriosa resposta havia sido feita, Altair fez algumas concessões. Vendeu os discos do Orlando Silva, aboliu a gravata azul e o paletó cinza, raspou o bigode falho e passou a andar de manga de camisa. Dona Marineide não reconhecia mais o filho e os Vicentinos começaram a sentir sua falta.

Já não sorria mais para Dona Suellen, apenas abanava a mão e a cerrava imediatamente, repousando-a no bolso da calça.

Às vezes coincidia de os dois irem para o ponto de ônibus juntos, ela pegava a condução primeiro do que ele, sem tempo para uma conversa mais demorada. Certa vez Altair quis elogiar o vestido azul decotado, o batom vermelho, o cabelo descolorido escovado, rasgar-lhe a roupa e rolarem no chão. O ônibus de Dona Suelen chegou primeiro. Foi pra casa acabou com uma garrafa de Cabernet e ouviu todos os discos do Orlando Silva.

Passada uma semana, dona Suelen foi de vestido vermelho e sapato preto, também carregava nas unhas e na boca carnuda a cor grená. Altair nem aceno de mão, levava o punhal no bolso direito. Nesse dia ele saiu mais cedo e esperou Dona Suelen atrás do ponto, agarrou-a por trás, tapou-lhe a boca e apunhalou-a trinta e cinco vezes. O punhal ficou enterrado no colo de Suelen, estirada no meio fio, com a boca aberta, um rosto pálido, um filete de sangue e uma interrogação no branco dos olhos.

Heneágono

(André Lopes)

Opções fulgurantes e um barco a vela

Desliza prazenteiro como um beijo

Fincado nas espumas passadas

Vazio, forte e ondulante.

O rosto na janela ouvia flores

Morrendo ao nascer do dia

E a serpente grisalha engolia

As nove esferas infernais

A vida é um calabouço de delírios

E a erva mais daninha derrubou

Os muros de vidro da íris de

Olhos neutros

Ó Musa! Dá-me a vírgula boreal

E me coloque na ponta dos dedos

Em uma praia deserta cheia

De pronomes pessoais intransferíveis

(André Lopes, 16/03/07)

Quando o pensamento vira música

(André Lopes)

Era olhar aqueles olhos

E lá bem dentro querer repousar

Todo um sono atrasado,

Apertar num abraço apertado

E sentir o cheiro que não vinha

Naquelas noites mais vazias e azuis.

Fui infante guerreiro, insano pirata

E drácula lisonjeiro, hoje me pareço

Com a loucura beata de Dom Quixote

Tecido de fragmentos, desde Amadis de Gaula

Aos doze pares de França.

Passo os dias escolhendo, como o louco cavaleiro,

minha donzela e minha lança. Sinto minha armadura tão

frágil como a dele, mas minha esperança nasce do sonho

o melhor lugar pra enfrentar gigantes colossais.

Vou fazendo de conta que a água é cristalina

Pois a palavra mais acertada custa a sair do

Meu coração, que é manso dentro da mais bravia

Tempestade e pulsante na mais pura calmaria.

Tentei quase todas as orações, fui no Nepal

Comprar insensos e no Himalaia me sagrar imortal

Amansei os cavalos mais selvagens com

Flores da Holanda e voltei pra casa

Com o peito apertado

Numa vontade danada de... ...

07/02/07

Epílogo desinteressante

(André Lopes)

Me reergui no sótão da memória

Onde o espanto pintava a aurora

Com aquele doce sangue esvaído

De trindades nebulosas

Tão chapiscadas de delírios

E de gritos calejados

A vírgula faliu agonizando numa exclamação

Portões dourados partiram no retumbar

Do berrante do fazendeiro do ar

Mnemosine arrastava seus andrajos

Escada a dentro num túnel de fogo

Tal e qual uma viúva titã.

Doze eram os pares mil e uma as noites

E os fracassos

A lança do Quixote trincava o céu lilás

Oferecendo um deleite supremo à Cérbero

Que tangia suspirante um berimbal.

Não quero ser grande

(André Lopes)

Não quero ser grande

Não me sinto grande

Não quero compartilhar do peso

Inexato de ser grande, de ser maior

De engolir espadas em torres de marfim

Meu verso é irregular serpente no pântano

Rima pobre e desvalida como os que pedem

Água na secura do deserto

Como os que pedem afeto pra um coração murcho

Seco seco seco

Definitivamente não me sinto grande

Me sinto eu com minhas cores, meus rios

E montes de pedras angulares vales cobertos de névoas

Em sonhos virginais

Os grandes são clássicos, preferidos dos exegetas

Palavra que nem deveria entrar aqui

Os grandes se irritam

Inventam regras

Não enfrentam moinhos de vento

E nem se sagram cavaleiros numa taberna

Quero ser a irregularidade dos meus versos

Bem mal comportados

Típico de quem tem pouca intimidade com a gramática

Com as regras sintáticas com os verbos

Que são belos bailarinos cor de rosa

Cabelos cacheados negros de olhos verdes

Guerreiros nebulosos com lanças gigantes nas mãos

Não quero ser grande

Sou confidente das minhas dores estomacais

Rezo ave-marias, pais-nosso e salve-reginae mater misericordea

Vita dulccedi expedi nostra salve

Para meus versos saltimbancos e salteadores opus miracolus

Quero ser o agora

Copo vazio boiando n’água!

História do quando

(André Lopes)

E quando o Medo fez-se o pranto do Perdão
o Descaso entopia as veias do coração
e na hora da não-hora orava-se por mais
Descaso e menos Medo desde que o Perdão
comparecesse com um prato de de(lírio) nas mãos
tornando o Medo ébrio e o Descaso enfraquecido...

Atrás da chave

Mesmo se tivesse a chave
dessa maldita porta que quero
arrombar mas não consigo...
rouba minhas madrugadas
e sinto sede de entrar...
como anjo decaído busco
um porto seguro nem que seja
no mar do sexo da piedade e do delírio...

A sombra das pedras em dor

minha elegância vem dos beijos
que as putas me deram acalmando
todo meu ódio encharcado do gosto
da rua testemunhando o gozo de tantas madrugadas
transformado em pedra e uns tristes olhos
pendendo duvidosos num quieto tiroteio.
Valha-me Deus!

porco tempo

nada me satisfaz mais
do que o brilho porco desse
cálice trincado que mesmo
sem querer verte a água
que estava em nós e já está
quase sempre...
por lá aonde os homens tem medo
de ir vou e pasmo e um brilho tímido
de estrela banza aqui bem dentro...
... cansado... ! fujo pro seu quarto
e me abrigo entre suas pernas quentes
num tesão quase baço!

De vez em quando

É certo que de vez em quando
eu morro
corro pra bem dentro,
suspiro, fogo!
Quem cuidará desse incêndio?
que tosta a minha pele
que está não estando na sua pele
e na sua boca, motivo de alucinação?
fico quieto no fim do dia e estilhaçado
na canção da madrugada...

genitália

na boca do meio-fio
vestida naquele trapo fatal
Maria contava seus dólar(es)
ganhado a pouco de um velho mijão
aquele mesmo que mandou embora
seu último cabaço (o da alma)
espatifado na cegueira do chão.

Qualquer nota

qualquer canto era pra prosa
era fiado e navalhal
a carne descarnada e suspirando
qualquer nota no fim do coração
papel rabiscado molhado de dor
e eu precisando de ter novamente
nas minhas roupas o borrão do seu
batom vermelho a minha última ceia
antes do choro e dos fogos incertos
do reveillon... quem sabe no carnaval
ou nos dias cinzentos da nossa última quarta-cinza
espero? corro? acho que vou chegar atrasado denovo!

Quebranto

Quero um palpite
quero um ungüento
um veneno feliz que pode
ser um beijo um sexo violento

vou de flores vinhos e tecidos
rasgados desde que suporte
e acolha meus pensamentos imundos

a nostalgia me faz melhor
enjaula minha alma encharca meus olhos
na mesa de um botequim sem você com cerveja e
querubim!

rasga meu peito agora
arranha minha pele
cante um samba pra mim
me faça submisso suba em cima de mim

coloca Lupicínio na vitrola!

Ardor

ardor: o ar que causa dor.
o peso das eras, um mistério
a solucionar.
enquanto isso (a vida) estamos
no meio de uma selva, excelente lugar
pra ficar com medo, surpreendidos em
nosso silêncio, nos arredores da nossa
consciência, que grita e nos coloca de
joelhos na frente do caos e dos lábios
não beijados...

Fel

um palhaço uma vez me disse
primeiro que era um clow
e depois que a amargura
era uma amarga rua
e queria silêncio
pra se maquiar e curtir
seu conhaque e o seu frio
porque já não lhe bastava
o relampago refletindo no espelho
e partindo em sei lá quantos pedaços
o seu coração pois cada relampago refletido
naquele espelho fotografava, dolorosamente,
ainda mais
o velho retrato amarelado
de uma colombina loira de olhos verdes
e tão azul, pra não dizer taful
e morrer pedante...

a arte de deslizar os sapatos

as vezes cai na cuca uma vontade besta
quando a mesa do bar é pouca
e os dias ficam sob a sola dos sapatos
que deslizam facilmente em qualquer noite
e nesas idas e vindas vai o malandro
riscando as ruas com seu bicolor bico-fino
como se estivesse no meio do salão
de uma gafieira esperando a que não virá
torcendo pra madrugada nunca ter fim.

apaga a luz

eu não tenho medo do amor,
me respondeu um mendigo
sujo e sem rima,
tinha sensibilidade
nas fezes que trazia nas mãos.

Cálice vadio

(André Lopes)

Um cálice vadio

De testemunha

Vermelho nas bordas

Do seu louco batom suave

E quente

No fundo da garganta

Um silencio contraído

Na frente do espelho

Quebrado na retina

Dos olhos amantes

E silenciosos...

Uma parte de mim desdobra

E o caos se instala

E estrala o vai-e-vem

Dos corpos...

Parece éter de carnaval

Mesmo eu nunca tendo

Cheirado parece a memória

De éter de carnaval

Mesmo eu não gostando

De carnaval

Parece samba-choro-pileque

Epilética-valsa!

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Felipe, versículo final

SILVA, André Lopes

Era o medo de dobrar a esquina que prendia Felipe naquele copo sujo chamado “Bar da Tia Olinda”, daquela mesa de ferro amarela ele via o mundo sempre enferrujado e amarelo como a mesa do bar.

Felipe se acocorava por ali por volta das seis, sete horas da noite e só ia embora quando o medo de dobrar a esquina passava, quando passava, quando não passava ele dormia na mesa, até ser mandado embora dali e se ajeitar numa calçada qualquer. Não sei bem se o nome dele era Felipe mesmo, mas ele tinha cara disso, antes de ter cara de vagabundo.

Tia Olinda era uma velha baixa, magra, de voz grossa, trazia sempre um abridor de garrafas dependurado no pescoço por um barbante, o que a distinguia de todas as outras tias do mundo e lhe conferia um tom bastante humano e honesto. Lá vem o filho da puta do Felipe! Era assim que ela anunciava a chegada do dono da mesa. As vezes ele já chegava bêbado, cantando sambas antigos e gritando alto, a esquina eu não viro!

Isso sempre era motivo de riso e piada da rapaziada, Felipe era o ultimo a sair do boteco, derrubava todos, os que ficavam rindo dele sempre saiam mais cedo vencidos pelo álcool, mijados ou vomitados, Felipe agüentava por ali, estacado e com medo de virar a esquina.

Um novato mais desavisado sempre incorria no erro de perguntar pro fulano porque que ele não virava a esquina, Felipe sempre respondia certeiro e com a voz pastosa, manca, ratiante: Vai pra puta que te pariu! Fechava o olho e mandava uma talagada de conhaque e cerveja pra dentro, sem tempo pra respirar.

As vezes Felipe se mijava todo, despreocupadamente, comovido ele bradava, isso sim é que é poesia da boa, e ria estrondoso. Uma mijada e uma cagada na roupa é o melhor poema que um homem pode fazez, era o jargão preferido de Felipe.

Bora Felipe já deu o que tinha de dá, vai pra casa, Tia Olinda enérgica com o trapo humano. Vou nada eu não vou dobrar a porra daquela esquina, e ele chorava copiosamente, digno de piedade.

Felipe bebeu até não agüentar mais, começou a vomitar, urinar e obrar sangue, seu fígado tinha ido embora nas fezes, de oitenta e dois quilos foi parar com quarenta e dois, já não andava, rastejava apoiado nas paredes, morreu na rua, na esquina que ele tanto temia, a mesma que a cerca de treze anos atrás havia estuprado a netinha de oito anos da Tia Olinda.

É a tarde que se passeia na praia

(André Lopes)

O olhar de Guiomar me enfeitiçava. Era assim, não precisava de falar mais nada. Meu estômago já roncou várias vezes por causa desse olhar e às vezes ainda ronca. Como estou há um tempo sem beber nadinha vou dar uma andada por aí. As vezes vem a vontade besta de querer pensar em Guiomar. Dizem que ela já empacotou uns três folgados que quiseram se meter a besta com ela. Não duvido. Ela tinha atitude. Conheci o último cara dela, ela não era de ninguém os caras é que eram dela. E por essa razão o tal fulano foi se acabando. Largou a vida e foi ver o mar, dormia na praia. Ela não gostava de tocar no assunto, eu respeitava, mas quase todas as noites encontrava com o fulano e a gente trocava umas meias palavras. Eu gosto mesmo é de ver o mar, me dizia com o olhar lacrimoso. Eu conhecia o mar a menos de um ano e ainda não tinha encontrado esse segredo que naufragava o velho homem. Eu queria morar lá dentro, bem no fundo, ele sempre terminava um assunto assim, levantava, ajeitava a calça imunda, passava a mão no rosto e no cabelo bagunçado e seguia, não andava, cambaleava, quase cai não cai.

Numa levantada dessas o sujeito ainda vai beijar o chão. Pensava. Nessa ele quase caiu, fui ajudar e ele me deu um esporro. Qualé que é otário, tá me achando com cara de loque seu puto, me larga porra. Ele era bem mais velho do que eu, só queria ajudar, ele se irritou, seria por causa de Guiomar, que agora era minha, seria por causa da minha juventude, da força que ia minguando nele? Fui pra casa sem resposta.

Você vai acabar como o velho. Me alertou um fulano. Eu não quis acreditar, tava firme no meu taco, e a sorte sempre me deu o braço. Mesmo porque o fulano me falava isso e ria, tava sempre de porre, mas falava isso com tanta convicção que fui aos poucos dando lugar pra verdade dele. O que sentia por Guiomar foi mudando, passei a procurá-la menos e passar mais tempo na praia, esperando o velho. Ali por volta das seis e meia, sete horas da noite ia pra praia, esperar. Tinha várias perguntas na cuca, mas na presença do velho ficava mudo e ele rosnava. Tá olhando o que seu bosta! Não sentia raiva dos esporros do velho, às vezes tinha vontade de rir ou chorar ao invés de cacetear um sopapo nele.

Queria saber mais sobre Guiomar, mas da última vez que toquei no nome dela pra ele o velho me pegou pelo colarinho e chorando e babando rosnou com bafo de pinga: Nunca mais toque no nome dessa vadia! Fui o único que gostou de verdade dela, ela estragou meu peito e a minha cuca to assim por causa dela, de loque apaixonado virei mendigo... Não sabia calcular quem gostava mais de Guiomar, ambos gostavam da mesma mulher, o sentimento do velho valia por um batalhão o meu era um exército de um homem só.

Depois do silêncio e da lembrança do acontecido perguntei se ele queria comer algo, depois de uns trinta segundos olhando pro mar levantou e saiu andando, não fui atrás, deixei o velho andar.

Naquele dia fui pra casa sem ver Guiomar, como disse os caras que eram dela, e era eu quem procurava, quem ligava, quem ia atrás, nesse dia preferi ir pra casa, engolir alguma coisa dormir mais cedo pra no dia seguinte ir falar com o velho. Acordei cedo o dia tava chuvoso fui pra praia. Uma movimentação, gente pra lá e pra cá, viatura, ambulância, curiosos se atropelando pra ver o velho sem roupa boiando no mar.

(André Lopes)

Do lado de fora

(André Lopes)

Araci viva dizendo que ia comer vidro moído misturado no feijão. Só passei a acreditar nisso quando as desconfianças foram aumentando. Iríamos casar, eu gastava mais do que recebia, ela achava que era com putaria e bebida, eu não sabia explicar. Cansado de falar de amor comecei a achar tudo muito inútil, sem brilho, confuso queria me debruçar num balcão de uma birosca qualquer. Os amigos estavam casando comprando casa e alianças, e eu naquela de falar sobre música, poesia e anarquismo. Duas almas num corpo só, dizia os camaradas, eu dizia que era amor e soltava uma gargalhada que seduzia os de espírito livre e socava os caretas. A idéia de Araci entrou na minha xícara de café, no meu copo de uísque, nos meus livros, nas teclas do computador... Não podia mais olhar pra mulher nenhuma, que vinha a imagem de Araci cagando sangue.

- Quero casar mês que vem!

Só tinha um silêncio pra responder Araci e ela enchia os olhos d’água e ficava uns quinze segundos parada me olhando. Queria abraçá-la mas não dava... A raiva de Araci jogou do quarto andar minhas garrafas de vinho e uísque, se não a pegasse pelos cabelos os discos iam juntos. A primeira vez que agi com violência com Araci, esse puxão de cabelo, que estilhaçou a minha alma. Dormia ouvindo o choramingado baixinho dela. Eu que fiquei num estado de sei lá o quê quando descobri que Araci não era mais virgem e que já tinha beijado tantas bocas, queria ser o único mas cadê a moral pra isso?

No pensamento as vezes fingia que Araci ainda era virgem, me perdia entre a verdade e a mentira, quem estava mentindo, meu pensamento ou a ausência do cabaço de Araci? talvez ele estivesse só escondido, ou ela teria nascido sem imen, mas ela já teve outros, que me contenho em não lhe perguntar quem era, se ainda viviam, onde ela tinha conhecido, em qual ocasião, se o pau deles era maior do que o meu, se algum deles já brocharam, qual beijo era melhor... Só ouvia silêncio, um silêncio frio e nublado e o gosto amargo na boca de pensar em quem tinha violado Araci.

Só pensava em Araci! Me acusavam de traição.

- Olha se eu fosse você eu abria o olho!

Essa frase veio da Alice, a que sempre me tratou bem, com um sorriso esparramado no rosto pálido que eu não sabia decifrar, o meu sorriso eu conheço, agora o do outro, é como se me perguntar o que existe no topo do Himalaia.

Não sabia se era essa e tantas outras frases odiosas, que Araci ouvia de Alice, ou se era outro tipo de pensamento que nublava a sua existência.

Era angustiante ver Araci se entregando, pensamento fixo no feijão com vidro moído, queria amá-la mais, fazia minha parte. Me retorcia durante os sonhos, neles ela sempre desaparecia, vinha imagens de antigas namoradas, todas verdadeiras assombrações, exceto uma.

Na repartição a coisa tava feia, com a oposição no poder o chefe me virou a cara, ele não gostava dos livros que eu levava pra ler nas horas vagas, diga-se longas horas. Certa vez seu Benário me flagrou debatendo com o contínuo sobre os rumos do Brasil, ele me achava bem patriota e zelador da moral e dos bons costumes, depois de ter ouvido minhas convicções seu sorriso se fechou pra mim e demitiu o contínuo, Alan, rapaz esguio, amarelado, franzino, barba por fazer, recém formado em história e tinha um grupo de estudos anarquistas, um bom currículo, exceto pra seu Benário, que suportava o rapaz por lá.

Sentia que seu Benário me suportava também, a mudança de comportamento foi rápida demais e ele sempre me perguntava:

- Pra quê que você lê tanto rapaz? Vai acabar ficando doido ou míope. E o casamento quando é que sai?

A primeira pergunta enchi o peito e a boca pra responder, mas foi em vão, agora a segunda pergunta a resposta estava pronta e foi certeira:

- Só caso com casa seu Benário e com aumento também.

Ele pigarreou, fransiu a testa e terminou o assunto se dirigindo a outro funcionário, com o escândalo típico dele.

Eu confiava no meu trabalho, seu Benário desconfiava, vivia mandando eu ler a bíblia ao invés dos livros que eu levava pra repartição.

O Alan tinha quatro barrigas pra dar de comer em casa, a esposa dele era durona, excelente pessoa, enérgica, tinha fibra, mas lhe faltava a sensibilidade do marido, o cara tava emagrecendo por causa disso. O que ele lia e sentia guardava pra si, vez ou outra compartilhava comigo.

A única vez que ele chegou bêbado em casa foi escurraçado pela mulher, apanhou sem dó e foi obrigado a dormir na rua, era uma noite fria e chuvosa, ele ficou ruim de pneumonia. Não tinha coragem de sair fora do embaraço que era seu casamento, no começo flores do meio pra frente uma montanha de merda. Ele já estava fora mas não tinha coragem de deixar a mulher, a casa e os filhos. Seu Benário lhe demitiu. Lembro de uma vez ruim ele me dizer: - Rapaz sabe qual é a única vez que me sinto em casa? Fora dela!

Albertinho

SILVA, André Lopes

Albertinho tinha uma característica privilegiada, era metódico. Disciplina era a sua palavra predileta, queria todos os filhos, pra não dizer o mundo, assim, metódicos, disciplinados e absolutamente cristãos. Ele era acima da média dos homens comuns, acima dos vagabundos como eu que fui obrigado a conviver uns dois anos e meio com ele. Era nítido o desprezo dele por mim, Albertinho era mais velho cheio de manias, metodismo, disciplina, dono de uma fragilidade oculta que ele sempre projetava no outro, de preferência nos vagabundos, era como ele se referia aos outros, que eram diferentes dele, olhando fixamente para mim, ele repetia esse discurso como se eu fosse o pior dos vagabundos.

Albertinho me incomodava e comovia, queria afastar-me dele mas não conseguia, ele tinha uma certa voz de comando sobre as pessoas, e cambaleava pateticamente entre a figura de um líder espiritual e de um embuste. Ele tinha suas fraquezas e mentia dizendo a verdade, era acima da média dos homens comuns. Alguma tragédia estaria por vir, fiz essa previsão, e esperava todo dia uma merda acontecer.

Era bom ouvir Albertinho, contava histórias triunfantes sobre o demônio, que o dito-cujo estava nas bebidas alcoólicas, nas mulheres, nos lugares dançantes, nas músicas mundanas, na fumaça do cigarro, nos palavrões, em certos alimentos e eu me sentia o próprio Lúcifer rendido. O demônio humilhado supera qualquer Legião, um homem que se dizia de Deus se extasiava ao falar do capeta, não sabia se ria ou se levava a sério aquele papo sobrenatural de Albertinho.

Certa vez Albertinho me disse que o adultério causa loucura, idéia que mais me acalmou do que desesperou, ri dos meus pecados e constatei que fatalmente vivemos numa República de lunáticos. Comecei a duvidar de certas coisas, como; será que Albertinho sente tesão pela sua esposa, aquele trapo humano, sem cor, sem forma, sem bunda, sem ter onde pegar e etc? Minha companhia era muito demoníaca para Albertinho que queria entrar no céu vestido de anjinho sem pecado, já eu queria e quero chegar lá com todos os pecados possíveis e mais alguns, sem medo de ser rechaçado, de voltar aleijado na próxima encarnação, ou faltando um pedaço, ou viado, ou mendigo, antes de qualquer coisa eu quero existir, sentir, fazer o outro sentir também seja conforto ou dor, amparo ou desamparo, ser poeticamente o pior dos piores.

Albertinho era muito metódico e dogmático tanto que na véspera do seu aniversário espancou sua mulher, por ter contestado a Bíblia, e no fim do dia comeu vidro moído misturado no feijão.