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terça-feira, 10 de abril de 2007

Não quero ser grande

(André Lopes)

Não quero ser grande

Não me sinto grande

Não quero compartilhar do peso

Inexato de ser grande, de ser maior

De engolir espadas em torres de marfim

Meu verso é irregular serpente no pântano

Rima pobre e desvalida como os que pedem

Água na secura do deserto

Como os que pedem afeto pra um coração murcho

Seco seco seco

Definitivamente não me sinto grande

Me sinto eu com minhas cores, meus rios

E montes de pedras angulares vales cobertos de névoas

Em sonhos virginais

Os grandes são clássicos, preferidos dos exegetas

Palavra que nem deveria entrar aqui

Os grandes se irritam

Inventam regras

Não enfrentam moinhos de vento

E nem se sagram cavaleiros numa taberna

Quero ser a irregularidade dos meus versos

Bem mal comportados

Típico de quem tem pouca intimidade com a gramática

Com as regras sintáticas com os verbos

Que são belos bailarinos cor de rosa

Cabelos cacheados negros de olhos verdes

Guerreiros nebulosos com lanças gigantes nas mãos

Não quero ser grande

Sou confidente das minhas dores estomacais

Rezo ave-marias, pais-nosso e salve-reginae mater misericordea

Vita dulccedi expedi nostra salve

Para meus versos saltimbancos e salteadores opus miracolus

Quero ser o agora

Copo vazio boiando n’água!

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