Não quero ser grande
(André Lopes)
Não quero ser grande
Não me sinto grande
Não quero compartilhar do peso
Inexato de ser grande, de ser maior
De engolir espadas em torres de marfim
Meu verso é irregular serpente no pântano
Rima pobre e desvalida como os que pedem
Água na secura do deserto
Como os que pedem afeto pra um coração murcho
Seco seco seco
Definitivamente não me sinto grande
Me sinto eu com minhas cores, meus rios
E montes de pedras angulares vales cobertos de névoas
Em sonhos virginais
Os grandes são clássicos, preferidos dos exegetas
Palavra que nem deveria entrar aqui
Os grandes se irritam
Inventam regras
Não enfrentam moinhos de vento
E nem se sagram cavaleiros numa taberna
Quero ser a irregularidade dos meus versos
Bem mal comportados
Típico de quem tem pouca intimidade com a gramática
Com as regras sintáticas com os verbos
Que são belos bailarinos cor de rosa
Cabelos cacheados negros de olhos verdes
Guerreiros nebulosos com lanças gigantes nas mãos
Não quero ser grande
Sou confidente das minhas dores estomacais
Rezo ave-marias, pais-nosso e salve-reginae mater misericordea
Vita dulccedi expedi nostra salve
Para meus versos saltimbancos e salteadores opus miracolus
Quero ser o agora
Copo vazio boiando n’água!
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