Seguidores

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Anomalia

Verdes vários vagavam
Num vasto vazio
E o silêncio de tudo interrompia o carnaval
Era quase madrugada
Dentro do nevoeiro
E uma febre atingindo em cheio meu coração.
O ... verso...
Quebrou
Meu desejo já era
Noite de folia
Vivo um delírio
Dentro de uma tempestade que eu mesmo cavei.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Por trilhas solitárias

Por trilhas solitárias
Andei semeando
Acordes bemóis

O amor a galope
Ia
Me passando para
Trás.

Um relâmpago no flanco direito
Do rio
Gritava soluços graves
E ao mesmo tempo
Iluminava por onde eu fingia fugir.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O brilho do teu olhar

O brilho do teu olhar volatiza flores fiz.
Ramalhete! ... recado! ... bilhete! ...
Piano solto no ar...
Um pórtico aberto no meio do nada
Segredo de orquidário!
Relâmpago! ... navio! ... beiral! ...

Depois da chuva de outono
Algum raio de sol... você...
Vento congelado na hora do poente.
Sinal.
O brilho do teu olhar volatiza flores fiz.

(André Lopes)

terça-feira, 16 de junho de 2009

Noite fora de casa
(André Lopes)
Vai Calmon puxa meu cabelo, puxa, vai!
Calmon não puxava, nunca puxou o cabelo de Tamires. A moleca ameaçava em pensamento:
- Ainda arrumo quem puxe meu cabelo!
O casamento ia se esticando para os seus 10 anos, um matrimônio pra ninguém botar defeito. A união satisfez os pais e regalou a parentela na festa sonhada pela noiva.
Calmon era sujeito caladão, dono de um pigarro característico dos de índole reticente, pequena marca da nicotina. Tinha o cigarro como confidente nas horas de maior desconfiança de Tamires que chamava a atenção na rua e no trabalho.
A moça era boa e muito bela. Sobrancelha bem feitinha, lápis nos olhos evidenciando sua castanhês, boca pequena brilhante e avermelhadinha, cabelos castanhos claros, sedosos, bem lisos e perfumados que sempre pediam uma puxada severa de Calmon que sempre recusava.
Certa noite, Calmon foi ao Bar Central, antro dos desocupados da sinuca e do carteado. Ele gostava apenas de observar, não jogava, nunca foi de jogatina, freqüentou poucas vezes cabaré, era vigilante sanitário e metido a anarquista. Pouco apegado as coisas de Deus era confidente do cigarro e do Bonifácio, dono da bodega.
Corria a lenda que o tal Bonifácio era dono de meninas, tudo começou como piada, justo pelo fato dele se apresentar como empresário da noite. Pois bem, Calmon confiava no amigo, e lhe devotava confidencias bastante íntimas. Uma delas, a última, era a respeito dos pedidos constantes de Tamires para puxar-lhe o cabelo nas horas de sexo.
- Estou num embaraço Bonifacio!
- Que que há meu rapaz?
- A Tamires vive pedindo pra eu puxar o cabelo dela quando estamos transando.
- E porque não o faz?
- Nunca, nem morto com algodão na boca!
- Meu filho que angustia tola!
- Porque não é você a vítima.
- Vítima de que?
- Deixa pra lá.
Calmon sempre imaculou Tamires, desde o primeiro encontro. Era da seguinte teoria: Sacanagem só com puta. Calmon esquecia que as putas também são mulheres por dentro.
- Não puxo Bonifácio. Sacanagem só com puta!
- Olha que ela arruma quem puxa!
- Vá te catar!
A sinceridade de Bonifácio aumentava com uma garrafa de pinga, Calmon o procurou em momento delicado, ele havia bebido duas e já tinha se mijado sem perceber.
Calmon foi embora com o cigarro em riste, era o que tinha lhe restado.
Chegando em casa o espanto. Tamires de trouxinha arrumada disse que ia dormir na casa da mãe, duas quadras a baixo da sua casa. Calmon esverdeou, se embaralhou nos pedidos de explicação, Tamires virou as costas e saiu, o taxi tinha acabado de chegar. Calmon ficou anestesiado e sem reação. Foi tentar dormir, não conseguiu.
Na manhã seguinte cinco da matina, bateu na porta da sogra, esta lhe atendeu de camisola e bobs coloridos e sem esperar tal surpresa, ainda zonza do sono interrompido, se espantou com o desespero de Calmon que atropelou a gentil senhora casa a dentro, vasculhando cada canto em busca da esposa fiel que não passara a noite em lar materno.