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terça-feira, 16 de junho de 2009

Noite fora de casa
(André Lopes)
Vai Calmon puxa meu cabelo, puxa, vai!
Calmon não puxava, nunca puxou o cabelo de Tamires. A moleca ameaçava em pensamento:
- Ainda arrumo quem puxe meu cabelo!
O casamento ia se esticando para os seus 10 anos, um matrimônio pra ninguém botar defeito. A união satisfez os pais e regalou a parentela na festa sonhada pela noiva.
Calmon era sujeito caladão, dono de um pigarro característico dos de índole reticente, pequena marca da nicotina. Tinha o cigarro como confidente nas horas de maior desconfiança de Tamires que chamava a atenção na rua e no trabalho.
A moça era boa e muito bela. Sobrancelha bem feitinha, lápis nos olhos evidenciando sua castanhês, boca pequena brilhante e avermelhadinha, cabelos castanhos claros, sedosos, bem lisos e perfumados que sempre pediam uma puxada severa de Calmon que sempre recusava.
Certa noite, Calmon foi ao Bar Central, antro dos desocupados da sinuca e do carteado. Ele gostava apenas de observar, não jogava, nunca foi de jogatina, freqüentou poucas vezes cabaré, era vigilante sanitário e metido a anarquista. Pouco apegado as coisas de Deus era confidente do cigarro e do Bonifácio, dono da bodega.
Corria a lenda que o tal Bonifácio era dono de meninas, tudo começou como piada, justo pelo fato dele se apresentar como empresário da noite. Pois bem, Calmon confiava no amigo, e lhe devotava confidencias bastante íntimas. Uma delas, a última, era a respeito dos pedidos constantes de Tamires para puxar-lhe o cabelo nas horas de sexo.
- Estou num embaraço Bonifacio!
- Que que há meu rapaz?
- A Tamires vive pedindo pra eu puxar o cabelo dela quando estamos transando.
- E porque não o faz?
- Nunca, nem morto com algodão na boca!
- Meu filho que angustia tola!
- Porque não é você a vítima.
- Vítima de que?
- Deixa pra lá.
Calmon sempre imaculou Tamires, desde o primeiro encontro. Era da seguinte teoria: Sacanagem só com puta. Calmon esquecia que as putas também são mulheres por dentro.
- Não puxo Bonifácio. Sacanagem só com puta!
- Olha que ela arruma quem puxa!
- Vá te catar!
A sinceridade de Bonifácio aumentava com uma garrafa de pinga, Calmon o procurou em momento delicado, ele havia bebido duas e já tinha se mijado sem perceber.
Calmon foi embora com o cigarro em riste, era o que tinha lhe restado.
Chegando em casa o espanto. Tamires de trouxinha arrumada disse que ia dormir na casa da mãe, duas quadras a baixo da sua casa. Calmon esverdeou, se embaralhou nos pedidos de explicação, Tamires virou as costas e saiu, o taxi tinha acabado de chegar. Calmon ficou anestesiado e sem reação. Foi tentar dormir, não conseguiu.
Na manhã seguinte cinco da matina, bateu na porta da sogra, esta lhe atendeu de camisola e bobs coloridos e sem esperar tal surpresa, ainda zonza do sono interrompido, se espantou com o desespero de Calmon que atropelou a gentil senhora casa a dentro, vasculhando cada canto em busca da esposa fiel que não passara a noite em lar materno.

Um comentário:

Criscres disse...

Poutz!!!!
Vc tá cada vez melhor!!!